O jiu-jítsu e o homem na Lua

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Após o lançamento de seu livro “Breathe — A life in flow”, o mestre Rickson Gracie comentou com jornais brasileiros que “quis abrir minha vida de uma forma franca. E espero que os leitores sintam que foram justamente as minhas dificuldades e erros que me fizeram evoluir como pessoa e me tornaram quem eu sou hoje”.

Pois, justamente na parte mais pungente da autobiografia, Rickson explicita uma de suas epifanias mais valiosas. Como Rickson comentou com repórteres de cadernos de cultura:

“Aprendi que controlar a vida é uma ilusão, que ela precisa ser vivida no presente. Se um de meus filhos me ligar hoje e eu estiver a caminho de um aeroporto, por exemplo, vou parar e escutar com calma. Se perder o avião, dane-se.”

Viver o aqui e agora talvez seja a lição de vida mais importante. E, de certa forma, é uma filosofia que bate à porta de todo e qualquer praticante de Jiu-Jitsu — conscientemente ou não. Afinal, o Jiu-Jitsu nos ensina toda semana que, num átimo de segundo, podemos de repente se ver por baixo. Ou, ainda, com a primeira mão lá no fundo de sua gola e a outra aproximando-se, ameaçadora. A vida é aqui e agora, nos tatames ou não — ou você resolve aquele problema ali e agora, amigo ou vai roncar e desferir os clássicos três tapinhas.
 
No fim das contas, trata-se de um estilo de encarar a vida que também é vital para quem convive com o alto risco. Escaladores, por exemplo, precisam concentrar 100% de seu foco — e seu tato — naquela rachadura da montanha, ou podem despencar de El Capitan; desbravadores cósmicos, por sua vez, não podem pensar na imensidão do espaço e no medo de não retornar, e sim concentrar no bip-bip do painel, e no modo certo de ajustar os fios do sistema.

O astronauta Charles Duke, que ficou célebre como o mais jovem ser humano a pisar na Lua, compartilha desse modo de ver a vida. Com 86 anos, o piloto que fez parte da Apollo 16 em 1972 comentou:

“Durante as viagens espaciais, as pessoas comuns pensam na possibilidade de catástrofes, claro, como os políticos, os jornalistas e os telespectadores. Mas nós somos o lado técnico. Creio que, ali no calor da hora, o fracasso não faz parte da nossa psique. Quando surgem imprevistos, como na Apollo 13, nosso foco está em entender o problema, por que ele surgiu e como solucioná-lo. Nossa cabeça então se concentra na técnica, não nas emoções”, ensinou o astronauta da Apollo 16 em 1972, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.

Charles Duke costuma contar como uma brincadeira fora de hora quase o deixou em apuros na lua. Durante os três dias que passou em solo lunar, Duke certo dia tentou um salto, numa espécie de brincadeira de “olimpíada lunar”. Caiu de mau jeito, em cima da mochila de life-support. Se o traje se rompesse, ele poderia ter morrido: “Durante os dois anos de treinamento, nós não havíamos praticado saltar alto na Lua. Quando pulei, meu centro de gravidade foi para trás e caí de costas, e foi assustador. Meu coração ficou acelerado. Aprendi então a grande lição: não faça nada na Lua ou no espaço que não tenha praticado na Terra”.

Comentários

MCGRAV Avatar
MCGRAV comentou:

Good words.

20 de setembro de 2022, 15:59
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Art Hoffart comentou:

How is your relationship with Kron??

17 de setembro de 2022, 14:29